Leão ao Valor: Foco no curto prazo deixa Petrobras vulnerável

Valor Econômico
Imagem na cor azul escuro, com o logotipo do Ineep ao centro.

A Petrobras da década 2020 deve ser uma empresa muito diferente daquela dos anos 2010, quando a estatal caminhava para ser uma empresa de desenvolvimento nacional, com atuação diversificada e impulsionando a indústria brasileira. A mudança estratégica da Petrobras, que anunciou um plano estratégico focado nos poços mais rentáveis do Pré-Sal e abandonou por completo a visão se ser uma empresa de desenvolvimento nacional, deixa a estatal numa posição muito vulnerável ao cenário externo. Essa é a leitura do economista Rodrigo Leão, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo (Ineep), em matéria publicada no jornal Valor Econômico (fechada para assinantes).

 

Se para os analistas de mercado e o presidente da Petrobras, a mudança estratégica é essencialmente positiva, Leão apresenta o contraponto ao jornal. Sem discordar de que haverá redução no endividamento e ganhos para o acionista de curto prazo, o economista aponta as fragilidades que surgem com a mudança.

 

 

Segundo Leão, a saída da Braskem [petroquímica] e da produção de biocombustíveis, além da redução de sua presença no refino, colocam a petroleira numa situação de dependência das variáveis do mercado externo (como preços e demanda), num movimento “atípico” em relação a seus pares globais.

 

Ele lembra que as grandes estatais de países em desenvolvimento sobretudo da China, Índia e Arábia Saudita, têm investido na expansão do parque de refino para reduzir a dependência dos derivados do exterior. Já as grandes petroleiras europeias, em contrapartida, têm investido de forma agressiva no segmento de renováveis, de olho na transição energética para uma economia de baixo carbono.

 

“As petroleiras desses países têm estratégias diferentes, mas convergem na preocupação de não se concentrarem apenas em exploração e produção. A Petrobras está fazendo o caminho que as outras estão evitando, de depender de exportações de óleo cru. Ela está olhando muito para o curto prazo”, defende Leão, ao lembrar que o plano de negócios anterior previa parcerias com a francesa Total para eólicas offshore (marítimas), mas que o projeto foi abandonado. “A curva de aprendizado de energias renováveis não é trivial. Deixar para apostar nisso apenas no futuro é um risco de que se perca a transição”, afirma.

 

O pesquisador do Ineep questiona também a venda da Braskem. A Agência Internacional de Energia (AIE) projeta que, diante do impacto da eletrificação dos carros sobre o consumo de combustíveis, um terço do crescimento da demanda de petróleo virá de petroquímica já em 2030. “Os derivados têm um ciclo de preços menos instável, seguram mais a volatilidade do mercado do que os preços do óleo cru. Ajudam a atenuar a volatilidade”, explica.

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